Por Silvânia Silva
Campinas, berço do forró universitário há 20 anos, concentra uma legião de apaixonados pelo forró, mais especificamente aquele pé de serra, tradicional composto por sanfona, triangulo e zabumba, que remonta à mais pura canção nordestina, carregada de emoção, fé, amor e força do sertanejo. Esse sentimento -agora também forte em Paulínia – foi eternizado pelos mestres Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca, Marinês…
Por causa da Unicamp, reduto de estudantes de diversas regiões, o multicultural distrito de Barão Geraldo concentra amantes do forró, que até hoje – depois do boom dos anos 2000, que revelou Falamansa e Rastapé – se encontram para celebrar a amizade e essa cultura ímpar. “Quem entra no forró, não sai nunca mais”, “depois que o bichinho do forró pica não tem mais volta”, “forró não é música é estilo de vida” são frases que se repetem nas rodas de amigos, madrugada afora, quando tentam explicar a paixão que foge ao racional.
Amizade e, principalmente respeito, atraem os novatos que se encantam com a cultura que foge das canções da moda, que arrastam multidões avidas por diversão inconsequente. “Forró é paixão, é respeito, é cultura, quem conhece se apaixona. Comigo foi assim e, de tanto gostar, de conviver, de ouvir forró e respirar isso 24 horas, resolvi fazer eventos para os amigos”, conta João Lopes Júnior, o JJ, um dos criadores do For All Sunset, que aconteceu em Paulínia, neste final de semana, pela segunda edição e atraiu forrozeiros de toda a região.
“Pé de serra” tradicional
O músico Thiago Silva, triângulo e vocal do trio Os Carraras explica. “Minha formação começou com amigos que se encontravam na antiga Cooperativa Brasil, em Campinas. Depois que a moda do universitário passou, revivemos a vibe do “pé de serra” tradicional e essa comunidade resiste e se fortalece cada dia mais. Fazemos parte de uma resistência linda”, reforça.
Hoje, quem curte esse estilo tem opções quase que diárias, para se entregar à dança. O Brasuca reúne forrozeiros antigos e novatos que encontram seu reduto no tradicional forró de domingo, derivado do forró das 6, marca do empresário Estéfano Bespalec Júnior. Apaixonado por forró, mantém a casa e neste ano assumiu o festival Nata Forrozeira, que apresentou mais de 50 shows, em quatro dias de forró, em Santana de Parnaíba, grande São Paulo.
Na capital, resistem o Canto da Ema e o Remelexo, que a cada show mostram quanto o forrozeiro é fiel e autêntico. O movimento roots se fortalece e o tradicional se sobrepõe às modernidades. Prova são os DJs e coletivos de vinil e bailes apenas com som do bolachão, envolvendo as pistas, com aquele chiado característico que transborda saudosismo e embala jovens que resistem.
O forró vive e ganha o mundo. Recentemente uma reportagem circulou falando do forró no Japão. Há os festivais na Europa. O Cirque du Soleil no espetáculo ‘Ovo’ apresenta show inspirado na cultura brasileira e tem forró e xaxado na trilha. Quem ver ‘Ovo’ mundo afora vai ouvir forró!
No último final de semana Alceu Valença roubou o protagonismo do rock e mostrou a força da música nordestina, como escreveu o jornalista Ricardo Antunes, sobre cobertura do João Rock, em Ribeirão Preto. “Com um repertório cheio de clássicos dos anos 1980, mais que cantar, o artista de 72 anos mostrou que suas letras estão mais vivas do que nunca e que a dança é parte indissociável de suas criações. As primeiras notas da sanfona foram suficientes para anunciar a chegada dele ao palco principal. Com seu chapéu de cangaceiro, ele já entrou colocando todo mundo para dançar o clássico baião. Só de pensar, essa que vos escreve se arrepia e cantarola mentalmente ‘Ouvi o toque da sanfona me chamar, ouvi o toque da sanfona me chamar…”