Pesquisadores da Unicamp estão desenvolvendo a primeira imunoterapia 100% brasileira dentro de uma universidade pública. O nanofármaco já demonstrou ter um grande potencial na redução de tumores localizados na bexiga. O medicamento estimula a produção de proteínas, de células de defesa e de citocinas, favorecendo a destruição dos tumores.

Os responsáveis pelo estudo são os professores Wagner José Fávaro e Nelson Duran, além do urologista José Carlos Cardoso Alonso. O Hospital Municipal de Paulínia, no interior de São Paulo, foi o escolhido para realizar os primeiros testes do nanofármaco.

“A indicação do OncoTherad, que está em fase adiantada de desenvolvimento, é para pacientes com câncer de bexiga não músculo invasivo. Para quem já passou pelo tratamento com o Onco BCG e o câncer reincidiu”, explica Wagner José Fávaro, especialista em Anatomia Humana, Carcinogênese Urogenital, Uropatologia e Desenvolvimento de Fármacos, com Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado pelo Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Combate ao câncer de bexiga
Quando o paciente tem um tumor que invade a camada muscular, ele é submetido a uma cistectomia radical, ou seja, a retirada total da bexiga. Se esse paciente for inelegível para a cirurgia, há protocolos de quimioterapia e radioterapia. Entretanto, esses procedimentos falham em 80% dos casos.

Em média, 70% dos pacientes com câncer de bexiga apresentam a condição não músculo invasivo. E o único tratamento atualmente no mercado consiste na raspagem do tumor, em conjunto com a terapia de Onco BCG. “O problema é que o tratamento com o Onco BCG falha em 45% dos casos. E, além disso, os pacientes sofrem de uma série de efeitos colaterais, fazendo com que muitos o abandonem.

Outro detalhe importante é que, especialmente no Brasil, há uma falha na distribuição do Onco BCG, produzido apenas por uma instituição, fazendo com que a população sofra com a falta desse medicamento constantemente”, alerta o pesquisador. Com essa nova imunoterapia, as principais vantagens são a diminuição da recorrência e a progressão da doença, além da redução dos efeitos colaterais.

Pesquisa da Unicamp
A pesquisa levou 13 anos para ser desenvolvida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em parceria com a Faculdade de Ciências Médicas, do Instituto de Biologia e do Instituto de Química desta instituição. “Passamos pelos processos de caracterização do fármaco; os testes in vitro em células; os testes em modelos animais, onde foi induzido o câncer; testamos a segurança e a eficácia desse produto em modelos animais; e depois o introduzimos em animais que desenvolvem espontaneamente esse tipo de câncer, como é o caso dos cachorros.

Depois, iniciamos um protocolo clínico veterinário, onde tratamos esses cães com câncer de bexiga. A partir desse momento, verificamos também a segurança e a eficácia durante o ensaio clínico. Encerrada essa etapa, seguimos para o ensaio clínico em seres humanos”, conta Wagner Fávaro.

Metodologia

A metodologia para avaliar a eficácia desse medicamento foi introduzi-lo em pacientes com diversas reincidências no câncer de bexiga após o uso do Onco BCG. Os pesquisadores contam que trataram desses pacientes depois da retirada do tumor e aplicaram o medicamento dentro das suas bexigas (como é realizada com o Onco BCG) e também realizaram uma aplicação intramuscular. A eficácia do tratamento foi realizada através de exames de citoscopia e ultrassonografia.

“Foram utilizados nessa metodologia de observação 20 pacientes, que iniciaram o tratamento há um ano e meio. Desses 20 pacientes, tivemos apenas 2 em que o tumor voltou, mas não com o mesmo tamanho e nível de agressividade. Ele voltou muito menor e com uma característica muito menos agressiva do que o seu diagnóstico inicial. E isso já é um grande passo, algo que o Onco BCG não consegue promover. E os efeitos colaterais estão sendo mínimos nestes pacientes, com o aparecimento de uma reação alérgica facilmente controlada com o uso de antialérgicos. Portanto, tivemos uma taxa de resposta positiva em 80% dos casos”, comemora Wagner Fávaro.

Com o bom resultado, a Comissão de Ética em Seres Humanos da Unicamp liberou o teste da medicação para pacientes com câncer de bexiga em qualquer estágio da doença.

Protocolo de tratamento

Foram realizadas aplicações uma vez por semana durante seis semanas consecutivas. Depois, eles passaram para uma aplicação a cada 15 dias por três meses. Em seguida, para uma aplicação mensal até completar um ano de tratamento. Mais adiante, uma aplicação a cada três meses até completar dois anos. E, finalmente, uma aplicação semestral até completar três anos.

Futuro do medicamento contra o câncer de bexiga
Os resultados estão sendo apresentados em congressos específicos e será publicado na ASCO, Congresso Americano de Oncologia. “Nós temos duas patentes para esse medicamento e, por isso não podemos fazer publicações científicas ainda por conta do prazo de sigilo das patentes, o que será viabilizado no segundo semestre deste ano”, revela o pesquisador.

Como o OncoTherad ainda está em fase de estudo clínico, a previsão para o início da sua comercialização é de quatro a cinco anos.

Fonte: pebmed.com.br