O alerta de uma mãe nas redes sociais, no último dia 14, sobre a boneca Momo que ensina como se suicidar, viralizou e trouxe de volta a discussão sobre a importância de os pais fiscalizarem e acompanharem o que os filhos veem na internet, especialmente, as crianças.

O vídeo compartilhado no Facebook da professora e produtora de conteúdo Juliana Tedeschi Hodar, de 41 anos, de Campinas mostra uma garotinha blogueira ensinando como fazer sorvete de baunilha de massinha, mas a aula da pequena acaba sendo invadida pela personagem esquisita da Momo. O vídeo é em inglês.

A Momo não fala abertamente que é um suicídio, mas sim de uma travessura e orienta as crianças a pegarem o que o papai tem na oficina ou que a mamãe tem na cozinha e use para se cortar.

No vídeo, mostra com detalhes como a criança faz um corte profundo nos pulsos com gilete. Ao final, a momo faz uma ameaça dizendo que quem não obedecer, ela pegará o papai ou buscará a criança. Juliana fez a postagem após receber o material no grupo da família.

Mãe de um adolescente e de uma menina de 8 anos, ela decidiu conversar após o expediente, com o marido, o administrador de empresas Juan Hodar, de 45 anos, para orientar a filha.

“Minha filha é carinhosa e muito apegada a nós. Às vezes dorme com a gente e não percebemos nenhum comportamento diferente, mas já algum tempo ela estava dormindo sempre conosco. Quando mostrei o vídeo, ela entrou em pânico e contou que já tinha visto quando assistia a um programa infantil no YouTube. Disse que estava com muito medo. Naquele dia ela não dormiu e até hoje está sofrendo com esse vídeo. Disse que a Momo vem buscar o pai dela”, contou Juliana.

Surpresa com o relato da filha, a produtora decidiu fazer um alerta em sua página. “Um alerta muito, mas muito sério …a tal da #momo voltou a aparecer agora no meio de vídeos de #slimes que são os que as crianças mais veem! Soube que ela estava com medo há tempos após nossa conversa. Conversem com seus filhos pelo amor de Deus”, disse na mensagem que teve 97 curtidas, 75 comentários e 1,3 mil compartilhamentos.

Preocupada com a reação da filha, Juliana pesquisou sobre a Momo e descobriu que a personagem foi criada por um grupo de jovens japoneses com base na foto de uma criação de um escultor japonês, que levou sua personagem para uma exposição. “O escultor nem sabia que esses jovens usaram sua criação para fazer a Momo. Mostrei para minha filha que tudo era uma invenção e que a personagem nunca viria fazer mal a ela”, disse a produtora que agora luta para orientar os pais sobre a importância de conversar com os filhos. “Dá muito medo, ainda mais que vivemos em um mundo com tantos relatos de loucura. Desde o massacre na Catedral Metropolitana em Campinas, intensifiquei as conversas em família”, frisou.

Fase do agrado
Especialista em Terapia Comportamental, a psicóloga Tatiana Niero Miranda Felizardo, disse que recebeu o vídeo de uma cliente e ficou preocupada. “É preocupante. A criança na faixa etária de 5 a 7 anos não tem senso crítico e está em uma fase que ela quer agradar os adultos. Se ela ver um vídeo desses pode seguir instruções erradas e isso pode ser fatal”, disse.

“É importante colocar pessoas com mais maturidade para vigiar, acompanhar o que as crianças assistem. Acompanhar não é invadir ou vasculhar o que elas veem, mas se aproximar e questionar o que viram, de que se trata o vídeo, não deixar que a criança fique quieta com tablet na mão. Se possível, até assista com elas, para ver se o conteúdo tem algo diferente”, orientou.

A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do YouTube, mas até a tarde de ontem, não houve retorno. Juliana disse que não registrou o caso na Polícia Civil, por acreditar que é um caso internacional, mas disse que o YouTube teria se comprometido a apurar o caso.