O presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), José da Fonseca Lopes, afirmou nesta sexta-feira (25) que o acordo firmado por outras entidades com o governo não conseguirá acabar com a paralisação e que “pode correr sangue”, a depender do emprego de força policial.

“Pode parar [a paralisação] se vier uma força policial muito forte para cima. […] Ninguém vai conseguir tirar o caminhoneiro. Vai correr sangue nisso aí”, disse à reportagem.

Questionado sobre a informação de que o governo pretende usar as Forças Armadas para liberar estradas se caminhoneiros não cederem, Fonseca disse que será “uma aberração”.

“O caminhoneiro é uma pessoa rude, uma pessoa simples. Quando ele entra numa briga, é difícil de tirar ele dessa briga”, disse. “Então isso pode criar sérios transtornos. Espero que não. Eu vou fazer o que eu posso para acontecer isso.”

Fonseca afirmou que a paralisação dos caminhoneiros, que ele não classifica como greve, “chega em determinado ponto que começa a insuflar, vem gente de tudo que é lado”.

O presidente da Abcam deixou a reunião com o governo, nesta quinta-feira (24), antes do fim e afirmou que não firmaria acordo com o Palácio do Planalto. Ele afirmou que o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) disse, na ocasião, que não haveria emprego das Forças Armadas.

A associação divulgou nota na qual repudia o acordo firmado com outras entidades e diz que continuará a exigir que o governo zere a alíquota de PIS/Cofins sobre o diesel.

NÃO VAMOS ENCERRAR O MOVIMENTO TÃO CEDO”, DIZ PRESIDENTE DA ABCAM
O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, disse não acreditar que os milhares de profissionais que desde a última segunda-feira (21) interditam parcialmente as estradas de quase todo o país voltem à normalidade nos próximos dois dias.

“Este final de semana vai ser para montarmos as estratégias que adotaremos a partir de segunda-feira. Na minha visão, não vamos encerrar o movimento tão cedo”, declarou Fonseca a Agência Brasil.

“A barra está pesada. A revolta [dos caminhoneiros] está grande e ninguém está querendo sair [da paralisação]. De hoje para segunda-feira eu vou tentar uma manifestação para resolver [o impasse], mas, para isso, eu vou ter que ter uma conversinha com o governo federal”, acrescentou o sindicalista.

Ontem (24), Fonseca deixou uma reunião no Palácio do Planalto enquanto ela estava em andamento. No encontro, nove das 11 entidades representativas do setor de transporte assinaram um acordo com o governo federal para tentar pôr fim à paralisação. Em troca do compromisso da Petrobras manter pelos próximos 30 dias o preço reduzido do óleo diesel nas refinarias e do governo estudar formas de baratear o preço dos combustíveis, as lideranças sindicais que assinaram o acordo prometeram suspender o movimento por 15 dias. A proposta foi recusada pela União Nacional dos Caminhoneiros (Unicam) e pela Abcam, que representa cerca de 700 mil trabalhadores.

“Eu fui lá defender um único item que, a meu ver, é o principal: o fim da cobrança da alíquota do PIS/Cofins e da Cide sobre o óleo diesel”, pontuou o presidente da Abcam, classificando outros pontos da pauta de negociação, como a suspensão da cobrança do pedágio sobre o eixo suspenso, como uma “esmola para caminhoneiros”.

Em nota, a Abcam repudiou o acordo assinado. “Ao contrário de outras entidades que se dizem representantes da categoria, a Abcam, não trairá os caminhoneiros. Continuaremos firmes com pedido inicial: isenção da alíquota PIS/Cofins sobre o diesel, publicada no Diário Oficial da União”.

BLOQUEIOS CONTINUAM
Mesmo após o anúncio da assinatura do acordo, os caminhoneiros continuam mantendo os bloqueios nas estradas. A própria Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou, esta manhã, que não tinha registradonenhuma desmobilização nas rodovias do país.

Alegando que ninguém aguenta mais a alta dos preços dos combustíveis no país, Fonseca reconheceu que o movimento vem contando com a simpatia de uma ampla parcela da opinião pública e dos formadores de opinião, mas que isso tende a mudar à medida que os reflexos da paralisação começarem a impactar o cotidiano da população.

“Quem inicialmente nos apoiou, amanhã vai nos acusar pela falta de alimentos, combustível, medicamentos…Queremos encerrar este movimento com o mesmo apoio da opinião pública e de todos que nos ajudaram e estamos trabalhando nesta linha, mas isso precisa ser uma coisa bem organizada e vamos ter que voltar a ter uma conversinha com o governo”, acrescentou Fonseca.

Há pouco, o presidente Michel Temer anunciou que acionou as forças de segurança para desbloquear as estradas e garantir “a livre circulação e o abastecimento”.