Após 43 anos vivendo no Hospital das Clínicas de São Paulo, por conta de uma poliomielite contraída quando era apenas um bebê, Eliana Zagui, 44 anos, decidiu deixar o hospital e passar a viver com amigos em uma casa em Sumaré, cidade distante 120 km da capital paulista.

“Eu estou muito feliz. Hoje posso dizer que estou a caminho do novo engatinhar, aos novos passos e uma nova postura corporal interna, a andar na vida no mundo fora do hospital”, afirmou ela.

Eliana tem apenas os movimentos do pescoço e da boca, que usa para fazer pinturas e controlar, por voz, o computador para escrever.

O desejo de deixar o hospital cresceu após algumas saídas nos finais de semana, que passaram a ser cada vez mais frequentes nos últimos anos — sempre na companhia de seu amigo, Lucas Negrini.

Eles se conheceram pela internet em 2014 e foi Lucas que passou a acompanhá-la nos passeios fora do hospital. O rapaz também providenciou a casa e as modificações necessárias para que Eliana pudesse viver com conforto.
Após a última saída, no Natal, veio a decisão de não voltar mais para o hospital. O próprio HC (Hospital das Clínicas) endossou a decisão, ao autorizar uma alta para ela, já que as condições de saúde eram consideradas ótimas.

“Hospital, que, por mais que tenha cuidados, não é lugar de se morar, para ninguém, mas sou grata a tudo que vivi lá”, diz Eliana, já em casa na cidade de Sumaré.

Eliana não era a única pessoa que morava no hospital. Por muitos anos, dividiu o quarto com Paulo Henrique Machado, 50, que vive no HC há 49 anos, também vítima da poliomielite.

Ambos têm sérias limitações dos movimentos e dependem de equipamentos hospitalares para sobreviver.

“Paulo será sempre a minha verdadeira família e o meu verdadeiro irmão. A distância sempre será doída, mas sou eternamente grata a Deus por tudo que vivemos e que ainda viveremos”, declarou sobre o companheiro de quarto.