Fabinho veste a camisa do Liverpool na apresentação ao seu novo clube, para onde se transferiu semana passada (Foto: Divulgação/Liverpool)

Formado nas categorias de base do Paulínia FC, Fabinho pode ser agora a salvação do clube da cidade para retornar às atividades. Segundo a imprensa inglesa, o lateral foi negociado na semana passada pelo Monaco para o Liverpool por € 50 milhões – o que equivale a R$ 216 milhões na cotação do Euro do dia da venda.

De acordo com o mecanismo de solidariedade da Fifa para clubes formadores, o Paulínia FC terá direito a receber 2% do valor da negociação – € 1 milhão, o que daria algo em torno de R$ 4,32 milhões, caso o valor da transação seja realmente o que foi divulgado. O trâmite burocrático não é fácil, mas tem sido respeitado pelos clubes.

Outro clube interessado no negócio é o Fluminense, que terá direito a 1%, ou seja, 500 mil euros, ou cerca de 2,16 milhões de reais. Mais até mesmo do que quando o clube das Laranjeiras vendeu o ainda lateral-direito para o Rio Ave (POR). Como o câmbio pode variar até o repasse, o valor final ainda pode mudar.

Fabinho chegou ao Fluminense em 2011, depois de se destacar pelo Paulínia, e integrou as categorias de base em Xerém. Sem muito espaço no time dos profissionais, foi vendido para o time de Portugal. Antes de chegar ao Monaco, ainda passou, por empréstimo, pelo Real Madrid.

Com 24 anos atualmente, todos os times pelos quais Fabinho passou até seu aniversário de 23 anos têm direito a receber uma parcela dos 5% determinados pela Fifa. O jogador esteve no Flu entre os 18 e os 19 anos.

Do Paulínia para o mundo

Destaque no Monaco e tendo já sido convocado algumas vezes para a Seleção Brasileira principal, Fabinho é natural da vizinha Campinas, onde nasceu em 23 de abril de 1993. Começou sua trajetória nas categorias de base do Paulínia, nas quais atuou de 2006 a 2011. Nesse último ano defendeu o clube na Copa São Paulo.

Vendido semana passada para o Liverpool, lateral direito Fabinho jogou na base do Paulínia entre 2006 e 2011 (Foto: Divulgação/PFC)

Mesmo o Paulínia FC não indo bem na competição, com duas derrotas e um empate, ainda assim a atuação de Fabinho chamou a atenção do Fluminense, no qual se profissionalizou em 2012. De lá, passou pelo Rio Ave (Portugal) e Real Madrid, antes de chegar ao Monaco por empréstimo em 2013. Dois anos depois, teve seus direitos adquiridos em definitivo por conta das suas boas atuações no Campeonato Francês e em competições europeias.

Fora das competições

Enquanto Fabinho consolidava a carreira internacional como um dos destaques do Monaco, o Paulínia vivia uma situação complicada nos gramados. Em 2014 foi eliminado na terceira fase da segunda divisão do Campeonato Paulista, perdendo a chance de brigar pelo acesso. Em 2015, caiu na fase de grupos São Paulo.

Ainda em 2015, o PFC anunciou no final do mês de fevereiro a suspensão de todas as suas atividades. O time se preparava novamente para encarar a segunda divisão, mas pediu licença de todas as competições oficiais da Federação Paulista de Futebol, tanto profissionais quanto de categorias de base.

O presidente de honra e idealizador do PFC, Francisco Almeida Bonavita Barros, disse na época que os motivos foram nítidos e exclusivamente políticos. De acordo com ele, a diretoria do clube preferiu evitar problemas com o Prefeitura por falta de apoio. Mesmo sem receber verbas públicas, o Paulínia FC dependia da Prefeitura de Paulínia para usar o estádio Luís Perissinotto, onde mandava seus jogos e as dependências da praça esportiva do Jardim Itapoan, onde eram realizados os treinos.

Paulínia FC deixou a categoria profissional em 2014; no ano seguinte, foi a vez da base (Foto: Divulgação/PFC)

O problema? Primeiro a política. Entre julho de 2013 e dezembro de 2016, quatro nomes se revezaram no comando da cidade: Edson Moura Júnior (PMDB), Marquinho Fiorella (PP), Sandro Caprino (PRB) e José Pavan Júnior (PSDB). Em meio a uma batalha de cassações e liminares, a Prefeitura encerrou o acordo de cessão da estrutura esportiva da cidade para o Paulínia FC – tanto o centro de treinamentos quanto o Estádio Municipal Luís Perissinotto. Sem ter como atuar na cidade, o Paulínia FC se licenciou em 2015.

Em junho do ano passado, em entrevista concedida ao UOL Esporte, o último presidente do Paulínia FC, Fábio Ricardo Brusco, confirmou o motivo que levou a agremiação a se afastar dos gramados. “O clube parou por um impasse político na época. Como usávamos o campo municipal e tínhamos um espaço como CT do clube que era municipal, não podíamos utilizar. Ficamos impedidos de jogar futebol”, contou o dirigente.

Ainda segundo Brusco, com o licenciamento a situação financeira do Paulínia se deteriorou. “Tivemos que licenciar o clube e ficamos este tempo parado. Tivemos um problema administrativo, e quando não pudemos jogar, não tivemos mais verba. Como você vai patrocinar um time que não joga?”, completou.

Fabinho: tábua de salvação

Com a eleição de Dixon Carvalho (PP), o clube chegou a reabrir conversas com o poder público, ainda no ano passado, para tentar reutilizar a estrutura esportiva local. Como o sinal verde dependerá do dinheiro vindo da

O interesse do UOL na matéria sobre a situação do Paulínia FC foi porque na época já se começava a cogitar uma possível transferência de Fabinho para um clube inglês de ponta – na época o jornal The Sun chegou a informar que o Manchester City, o time de Gabriel Jesus, estaria disposto a investir nele até 25 milhões de libras (então cerca de R$ 100 milhões), enquanto parte da imprensa local afirmava que o maior interessado seria o seu rival Manchester United.

E aí que entra a negociação de Fabinho. Com a eleição de Dixon Carvalho (PP), o clube chegou a reabrir conversas com o poder público, ainda no ano passado, para tentar reutilizar a estrutura esportiva local. Como o sinal verde dependerá do dinheiro vindo da transferência do lateral para quitar dívidas com funcionários e tentar, quem sabe, retornar aos gramados.

“Com a troca da gestão pública, estamos tentando fazer uma aproximação. A gente tem a intenção de voltar com o clube. Mas tem coisas que ainda estão em conversa. A prioridade não vai ser o futebol, mas a ideia seria essa: quitar as pendências com os funcionários”, diz Brusco, eleito presidente do Paulínia para o período entre maio de 2017 e maio de 2020.

Com as dívidas quitadas, aí sim, o Paulínia pode deixar o licenciamento. A meta é retomar primeiro as categorias de base, para depois pensar no futebol profissional”. “A gente tem que começar a casa pelo alicerce, não pelo telhado”, explica Brusco, segundo o qual a formação de atletas “era um carro-chefe do clube”. “Para recomeçar as coisas, seria um projeto mais tranquilo”, justifica.

Com Fabinho trocando o Monaco pelo Liverpool, o Paulínia FC deve receber pouco mais de R$ 4 milhões: dinheiro que pode quitar dívidas com funcionários e recolocar o clube em atividade (Foto: Divulgação/PFC)

O novo coringa do Liverpool

Fabinho já havia declarado em dezembro que provavelmente deixaria o Monaco ao fim da temporada. Nos últimos dias, as especulações, além dos já citados clubes ingleses, também davam conta de que Paris Saint-Germain e Atlético de Madrid eram os clubes mais interessados no brasileiro.

Mas foi o Liverpool que acertou com Fabinho e contará com o brasileiro a partir da temporada 2018/2019. O clube inglês anunciou a contratação do brasileiro, que pode atuar tanto na lateral direita quanto no meio de campo.

O clube explicou que Fabinho assinará contrato apenas no dia 1.º de julho, após realizar exames médicos no clube. Os valores envolvidos na negociação não foram divulgados, mas a imprensa inglesa garante que o time local desembolsou 50 milhões de euros (cerca de R$ 216 milhões) para tirar o jogador do Monaco.

Apenas dois dias depois de viver a decepção da derrota na decisão da Liga dos Campeões, para o Real Madrid, o Liverpool deu mostras de já estar pensando nas próximas temporadas.

“Estou realmente animado com esta transferência. É algo que eu sempre quis, jogar por um time gigante. A infraestrutura do clube parece excepcional. Um clube deste tamanho vindo atrás dos meus serviços. Eu não tive que pensar muito antes de aceitar vir para cá”, declarou em entrevista ao site do clube.

“Eu vou tentar criar minha própria história neste clube de futebol. Espero que, em um nível pessoal, eu seja capaz de conquistar títulos com o time. Vou tentar crescer, aprender e evoluir, além de me tornar parte da história do clube”, projetou o atleta de 24 anos.

Resta saber se o técnico Jürgen Klopp optará por utilizá-lo como lateral ou meio-campista. Por enquanto, de certo mesmo, apenas a empolgação do jogador por chegar ao novo time.

Matéria: Mauro Cesar Squariz

Fotos: Liverpool e Paulínia F.C.