A paquistanesa Asma Aziz afirma ter sido torturada pelo próprio marido por se recusar a dançar com ele e com amigos. Em seu relato, ela diz que teve a cabeça raspada e foi amarrada a um cano.

Presos pela polícia, o marido de Aziz e um funcionário dele negam o crime.

O caso ganhou visibilidade na mídia e nas redes sociais depois que ela postou um vídeo sem cabelo e com o rosto ferido. A repercussão ampliou as preocupações em torno da violência contra mulheres e os pedidos para proteger mulheres da violência doméstica.

No Twitter, a Anistia Internacional afirmou ser necessária uma “mudança sistêmica” no sistema do país.

O Paquistão é considerado pela Organização das Nações Unidas como um dos piores lugares em termos de saúde, educação, participação pública e status econômicos para mulheres. No Índice de Igualdade de Gênero de 2016 da ONU, o país ficou em 147º lugar no ranking de 188 nações.

A violência contra mulheres e adolescentes é considerada um problema gravíssimo no país, e ativistas afirmam que há subnotificação significativa nas estatísticas oficiais.

‘Minhas roupas estavam ensanguentadas’
O vídeo no qual Asma Aziz narra seu drama foi postado no dia 26 de março. Nele, ela afirma que dois dias antes foi torturada por não querer dançar na frente dos amigos do marido, que estavam na casa do casal em Laore – eles vivem num condomínio fechado na capital da província de Panjabe, no Paquistão.

“Ele tirou minha roupa na frente dos funcionários, que me seguraram enquanto ele raspava minha cabeça e a queimava. Minhas roupas estavam ensanguentadas. Eu estava presa, amarrada a um cano e pendurada no ventilador. Ele ameaçou me pendurar nua”, disse.

Aziz afirmou ter ido à polícia prestar queixa, mas, segundo ela, os agentes ficaram postergando o registro. A polícia nega a acusação e informa que, imediatamente depois da visita de Aziz, uma equipe foi à casa dela, mas estava fechada e a administração do condomínio não deixou que os policiais entrassem na residência.

A investigação do caso só avançou quando o ministro do Interior substituto, Sheheryar Afridi, tomou conhecimento do vídeo e deu a ordem para registrar a queixa.

O marido de Aziz, Mian Faisal, e o funcionário dele, Rashid Ali, foram presos no dia seguinte à ordem do ministro.

Um relatório médico preliminar identificou diversos hematomas, inchaço e vermelhidão nos braços, bochechas e ao redor do olho esquerdo de Asma Aziz. Os advogados tentam fazer com que o caso seja julgado sob a mais rígida lei antiterrorista, em vez de ser tratado como um procedimento criminal comum.

Outro lado
Na documentação apresentada à polícia de Lahore na quarta-feira, os advogados da paquistanesa argumentaram que o caso causou “ampla inquietação e ansiedade mais na sociedade”.

Faisal, por sua vez, disse à polícia na semana passada que sua esposa havia começado a cortar o cabelo sob a influência de drogas e que ele, depois de também usar entorpecentes, apenas a ajudou a terminar o trabalho.

O episódio causou furor nas mídias sociais, com muita gente manifestando raiva pela violência doméstica no Paquistão. A sociedade paquistanesa é bastante conservadora, e os direitos das mulheres alimentam debates acalorados há anos.

No mês passado, grupos reagiram contra as marchas pelo Dia das Mulheres, e organizadores desses protestos afirmam ter recebido ameaça de morte e de estupro nas redes sociais.